segunda-feira, 2 de maio de 2011

Rápido e estranho

   Ela era uma visão do paraíso. Ele ficou ali sentado na classe. Conversava com alguns amigos, mas silenciou quando ela entrou na sala e veio em sua direção. Os colegas seguraram risadas - já conheciam ele -. O quê eu falo? O que eu faço? Meu Deus, me ajuda!! - Oi.
   - Eh, oi.- Respondeu (tímido) normalmente.
   - Aqui é a sala 113?
   - Ah, é, hum... É, sim. Você é a aluna nova?
   - Aham. Meu nome é Juliana.
   - Muito prazer, Ju.- Ele sorriu. Além de linda, era simpática.
   - Ju, não. Juliana.
   - Ah, desculpa. Eu sou o Dani.
   - Dani...
   - Não, Daniel.
   Era estranho uma pessoa tão... TÃO vir falar com ele. Nem os amigos entendiam. Era coisa de destino, carma, Deus... Ou algo assim.
   A manhã passou depressa. Mas tinha alguma coisa diferente. Uma amizade estava nascendo ali... Tão rápido.
   Mais tarde ela telefonou, queria saber o que ele iria fazer à noite.
   - O mesmo que faço todas as noites.
   - Tentar dominar o mundo?- Riram juntos. Sua risada era ainda mais linda que seu rosto.
   - Também. E você vai fazer o quê?
   - Eu vou sair com um amigo.
   - Ah, legal.
   - Você é o amigo, seu bobo.
   Marcaram de ir a um parque para ver o sol se pôr. Daniel programou o seu despertador. Era esquecido, estabanado, tímido. E não sabia por que Juliana tinha se interessado por ele.
   Às cinco e quarenta da tarde, eles estavam deitados numa elevação gramada próxima a algumas árvores. O céu estava vermelho e azul, o horizonte era dourado.
   Conversaram por alguns minutos. Ele se sentia à vontade com ela. Era estranho. Daniel era envergonhado, principalmente quando se tratava de uma menina. Mas com Juliana era diferente. Era tudo muito rápido. Estranho.
   As bandas, os poucos livros, os interesses profissionais; era tudo igual. O que era diferente, se completava. Ela queria ser fotógrafa, ele queria jornalismo. Ela achava ele bonitinho e se considerava abaixo da média; ele chamava ela de linda e recusava seus elogios.
   Quando a primeira estrela apareceu no céu escuro, ela olhou para ele e falou baixinho:
   - Tudo tão rápido, né?
   - Muito estranho.
   Juliana tocou de leve a sua mão e sorriu.
   - Estranho é bom...
   Beijaram-se e ficaram deitados lado-a-lado, olhando as estrelas e falando sobre tudo. Era estranho, tudo muito rápido. Mas era bom.
   O alarme do celular soa e Daniel dá um pulo da cama. - Ah, droga, de novo?!
   - Falando sozinho, filho?- Clarice, mãe de Daniel, entra no quarto com um pão e um copo nas mãos.
   - É, mãe. Sonhei com ela outra vez.- Ele pega o sanduíche, morde e abre o roupeiro.
   - Já disse que você tem que parar de ficar imaginando coisas. Essa moça não existe, Dani!
   - Como a senhora tem tanta certeza? Ela deve estar por aí sonhando comigo todas as noites também. Só falta os nossos caminhos se cruzarem.
   - Tá bem. Mas não venha chorar pra mim quando cansar de procurar.
   - Eu nunca vou cansar.
   No ônibus, Daniel passou a viagem inteira contando o seu sonho para Vinícius, um amigo de infância.
   - Cara, você é muito doido!
   - É, Vini, eu sei, mas...
   - Mas nada! Essa história é demais! Você tem que dividir isso com a galera!
   - Acha mesmo? Eles não vão dizer que eu sou muito romântico e pegar no meu pé?
   - Claro que vão! Mas todo mundo já faz isso...
   - Ahn, é mesmo.
   Chegando na sala, Vinícius chamou os amigos e formaram uma roda em torno de Daniel para ouvir o seu último sonho. Alguns riam e diziam que só ele mesmo poderia se apaixonar por uma pessoa imaginária. Outros achavam que Juliana era boa demais e só poderia existir nos sonhos dele.
   Vinícius pergunta sobre o corpo dela. Cabelos, olhos e as partes mais importantes. Mas Daniel fica calado, com o olhar perdido para a porta. Uma loira de olhos castanhos mel entra e sorri para ele. Os garotos ficam incrédulos e se afastam. Daniel se levanta e pensa - Que rápido.
   - Que estranho, né, Dani?
   - Mas estranho é bom, né, Ju?

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