sábado, 30 de abril de 2011

Sobre as coisas

     E aí, estava pensando em ti, confesso. E sobre toda essa admiração que só cresce. Bem, pelo menos às vezes parece crescer em marcha lenta, embora nunca pare.
     Ri de mim mesmo, lembrando como às vezes leio um pensamento que você explicitou, ou uma frase que você deixou em destaque, e abro um sorriso. Aquela crença infantil de que você poderia estar dedicando essas grandes obras de grandes gênios, poetas, a mim.
     E sobre os poucos momentos em que passamos juntos, você já percebeu que perco a voz? Perco o ar.
     E sobre os momentos em que parece que não ligo pro que está acontecendo? Acredite, não sou neutro. Tenho plena consciência de que você está por perto. Sinto sua presença, tenho consciência de cada movimento seu, nenhum passa despercebido.
     E sobre a minha percepção me permitir ouvir sua respiração de longe? Pra ser sincero, eu também não compreendo, mas sei que é só com você. E finjo não me decepcionar ao notar que ela não fica ofegante como a minha quando nos aproximamos.
     Mas...e sobre nós?
     Aí estava pensando em ti, confesso, no que deveria te dizer. Ficava imaginando o que eu diria e o que eu queria ouvir. E foi longo esse tempo, e você não vinha, esperei.
     Acendi um cigarro, o gosto amargo de sempre, familiar e amadeirado. Brinquei de fazer desenhos imaginários no ar. As pessoas ao redor pareciam convencidas de que havia algo errado comigo, em seguida notei que elas tinham razão. Eu tinha um problema, você ainda não estava ali.
     Pedi uma dose de um uísque barato qualquer, não importava. Só precisava ficar ali. Senti a garganta esquentar, o liquido descer rasgando. Talvez, tenha sido esse o único momento em que desviei minha atenção e meu olhar daquela porta.
     Lembrei-me do teu sorriso, e pensei no quanto esperava vê-lo outra vez, segundos após eu me declarar. Lembrei dos seus olhos. Verdes, não é? Lembro de tê-los notado como a água do mar refletindo o sol naquela outra tarde. Na verdade, acho que se não fossem de cor rara ou clara, eles me encantariam do mesmo jeito só pelo fato de serem seus.
     E eu queria dizer tudo isso com a facilidade com que escrevo. Mas você agora estava lá, e eu percebi que você havia atrasado mas não o suficiente pra eu me sentir pronto. Sei que deveria, mas não conseguia dizer nenhuma palavra. Na verdade, elas até foram ditas... em silêncio.
     Então você sentou e repetiu todo o meu pensamento em voz alta. E pôde ver meu sorriso, como disse que mais uma vez desejava.
     Sobre nós? Bom... nós é a união do eu com o você.

Um comentário:

  1. Amei o texto, principalmente o sentimentalismo claramente exposto sobre ele. AMEI.

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