quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Luísa quer morrer

 - Não sei, Guto. Pergunta pra ela!
         - Como assim, pergunta pra ela?
         - Simples: pergunta pra menina se ela gosta de romantismo!
         - Ai, Ana Luísa, você acaba comigo...
         - Quem acaba com você é a sua insegurança... Gustavo.
         - E o seu namoradinho, que houve?
         -... Não quero falar sobre isso.

Ana Luísa e Gustavo são amigos inseparáveis desde que se lembram. Guto diz que é primo da tia da mãe de Luísa – ou algo assim, e é isso que os faz tão unidos. Ela, em contrapartida, diz que sua inteligência e a sensibilidade de Guto são como gelo e sal, e é isso que os aproxima.
Não há certezas na relação. Tampouco, dúvidas. Os dois preferem não racionalizar a amizade. Deixar fluir naturalmente.

- E agora?
         - Agora o quê?
         - Cansou de ficar rabiscando esse caderno e vai falar sobre o cara?
         - Ah... se curiosidade matasse.
         - Não tô curioso coisa nenhuma! É só uma pesquisa que estou fazendo.
         - Sobre o quê?
         - “Por que as mulheres preferem os cafajestes” por Gustavo Albuquerque.
         - Como você é engraçado, Guto.
         - Mamãe também acha. Mas vai, conta aí. Abre seu coraçãozinho.
         - Não tem o que dizer. Ele me traiu e eu vou me suicidar.
         - COMO ASSIM? Ele te traiu?
         - Foi. Só que eu acho que até foi bom. Me livrei de mais um idiota.
         - Mais um...?
         - Você entendeu.
         - E você vai se matar por causa de uma traição? Não é exagero?
         - Não é por causa da traição. Só. É por causa de tudo.
         - Ah, bom, agora tá explicado. Quer ajuda?
         - Para, moleque! Eu tô falando sério. Cansei de tudo ser sempre igual.
         - Ah, entendi. E por “tudo”, você quer dizer os homens?
         - Odeio quando você faz essas aspas com as mãos.
         - Odeio quando você é “reticente” sobre o assunto.
         - Lembra o loiro que eu namorava? O que aconteceu?
         - Ele ficou com a minha ex... Né?
         - Isso. E depois dele, o outro e o outro e, agora, esse.
         - E daí, Lu?!
         - E daí que é tudo sempre igual!
         - Como você é dramática... Eu também fui traído pelo loiro e não fico pensando em me matar.
         - Vocês já tinham terminado, Guto. Ela não te traiu.
         - Verdade. Tinha esquecido.
         - E você ficou deprimido, também, quando terminaram!
         - Verdade. Obrigado por me lembrar, Ana Luísa!
         - Desculpa, Guto.
         - Tudo bem. Ela não prestava mesmo. Agora que eu vejo o quanto fui burro por ter ficado triste.
         - Foi mesmo! A menina nem era tão bonita e tratava você como lixo.
         - Ainda bem que agora eu já estou conformado e até andei saindo com outras garotas.
         - Esqueceu completamente?
         - Completamente! Mas, na época, eu achava que todas as meninas fariam sempre a mesma coisa comigo. Me usar e depois, me descartar.
         - Como você é bobo! Não pode julgar todo mundo por causa de uma ou duas. Algumas meninas são legais. Tipo eu!
         - É verdade. Acho que agora eu percebo isso. Mas quando nós terminamos, eu pensei até em tirar minha própria vida.
         - Você ia se matar por causa do fim de um namoro? Que exagerado! Eu nunca faria isso, Guto. Você é um bobo.

         Gustavo olha pra baixo, com um sorriso tímido. Ana Luísa dá um empurrãozinho nele e deita em seu colo.

         - Você é um idiota, Gustavo.
         - E sou mais esperto que você.
         - Eu te amo.
         - Eu te amo mais.

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